E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor...

Sábado de manhã foi um momento de remexer no baú de relíquias, literalmente, com todo a saudade e toda a poeira a que tínhamos direito... fomos com a minha mãe tirar dos armários, separar e encaixotar os livros do meu avô, decidir quais serão guardados, quais serão doados, quais serão relidos... tarefinha nada fácil! Como determinar quais são as relíquias guardáveis e com qual critério?

Mas foi ótimo porque demos muita risada no processo, muita mesmo! O nosso primeiro critério foi: vamos guardar os livros autografados e doar os não autografados. Mas esquecemos quem era meu avô por alguns instantes até que nos tocamos que tinham muito mais livros autografados do que sem autógrafo! Muitos, deles, aliás, inacreditáveis: como de Chico Buarque, em seus manuscritos de A Banda... e ainda Carlos Drummond de Andrade, nas suas poesias completas (sim, Drummond himself, que ainda afirmou ser um admirador).

Outros achados também foram surpreendentes: muitos livros sobre agricultura (inclusive todos os fascículos de A a Z do Lavrador Prático), "Como enlouquecer sua mulher na cama e fazê-la subir pelas paredes" (que, por incrível que pareça, foi publicado em algum ano da década de 50) e um dos nossos maiores achados: "O Livro de Satã", que, segundo a contracapa, foi ditado pelo próprio Cramunhão! Esse o Xinho fez questão de guardar...

E para finalizar, um grande mistério: quem é Padre Brown? Descobrimos que meu avô possuía toda a coleção do Padre Brown, "o Segredo de Padre Brown", a "Sabedoria do Padre Brown", entre outros! Trouxe todos para casa... vamos ver o que descubro! Só sei que se é possível saber mais sobre uma pessoa a partir dos livros que ela lê, meu avô, que já me surpreendia, conseguiu me orgulhar mais! Nunca vi coleção tão eclética! Terminar a vida com uma biblioteca daquelas devia ser um objetivo!