As ruas têm cheio de gasolina

... e Deus inventou o carro! E com ele, a troca de óleo!

Eu já sabia que tinha que trocar o óleo e fui no posto com esta intenção. Parei, abasteci, e esperei que o frentista viesse com aquele papinho de sempre "quer que dê uma verificada na água e no óleo"? Aliás, tiro meu chapéu para os frentistas do mundo! Primeiro porque eles são ázes no português fino... quem, fora eles, fala "vou dar uma verificada"?? E segundo porque eles entendem de carro, eu não!

- Pode verificar sim... eu sei que precisa encher o óleo!

Pausa aqui! Sim, eu disse "encher" o óleo!!

Mesmo depois da gafe, o frentista tirou aquele espetinho de ferro que teoricamente é o medidor de óleo e veio me mostrar:

- Tá vendo? Realmente precisa TROCAR o óleo! (ênfase no trocar!)

Eu olhei com a minha melhor cara de conteúdo, analisei com calma e finalmente disse: tudo bem, pode trocar!

- Quer que eu coloque o carro lá para a senhora?
- Ãhn?
- Ou a senhora mesmo dá a ré?
- Cuma?
- A troca de óleo é ali! (apontando)
- Ah, coloca lá prá mim, sim, por favor!

Colocaram meu carrinho num suporte, e eu ali do lado, em pé, crente que seria uma coisa de cinco minutinhos essa tal de troca de óleo. Quando o carro foi levantado aos céus, percebi que não era uma tarefa tão simples. Sentei num banquinho ao lado do vendedor de "instintores" de incêndio, que aproveitou para me perguntar há quanto tempo eu não trocava o meu.(Flashback para um outro dia, em um outro posto, um desses vendedores dizendo que meu extintor tinha vencido há anos. Troquei imediatamente ao imaginar a cena trágica do meu carro pegando fogo e eu chorando arrependida: "se eu ao menos tivesse ouvido o cara!!". Meu tubão vermelho vale até 2011!! Yeaaaah!) Pelo menos disso eu escapei!

Só disso... um minuto depois veio o mecânico (que também é um frentista, mas é mais up na hierarquia do posto!):

- Qual óleo a senhora costuma usar neste carro?
- Não faço a menor idéia.
- A senhora nunca trocou o óleo?
- Não.
- Bom, o óleo que temos aqui para carros turbo é esse.

E me mostrou o frasco. Fiz a minha segunda melhor cara de conteúdo do dia, e disse:

- Quanto custa? (não podia parecer tão desintendida que nem ao menos me preocupava com o preço!)
- XXX reais...
- Pode colocar! (tom de voz agudo!)
- ... o litro! Vão cinco litros!
- ah... pode colocar. (tom de voz grave)

Voltei ao meu cantinho, e logo volta ele com algo na mão que parecia um ralador, inteiro preto.

- Senhora, esse é o seu filtro de ar condicionado.

Olhei com a terceira e já não tão esforçada cara de conteúdo do dia. Era preto e meio sujo. Desisti de tentar disfarçar minha total e absoluta ignorância:

- E o que significa?? Precisa trocar, é isso??
- Precisa! Isso é o ar que a senhora respira dentro do carro!
- Certo, troque! (com a imagem de um câncer de pulmão na mente)

Dei uma olhada na troca e para meu espanto o filtro original era branco. Ufa! Acho que nessa eu acertei pelo menos. Já estava cansada, de saco cheio, com calor, não queria trocar mais nada e ir embora. Vem o infeliz de novo:

- Senhora, precisa completar o fluido do radiad...
- COMPLETE! (nas entrelinhas: e não me enche mais o saco!)

Decidi ficar em pé prá ver se apressava mais as coisas. Enquanto isso ele completou a água, passou paninho molhado em todos os órgãos internos do carro, limpou os vidros... e eu comecei a sentir uma tontura, vertigem, tudo girando. E lembrei: além do cansaço, calor infernal, sol na cuca, era de manhã e eu estava de estomago completamente vazio! É POR ISSO QUE LIDAR COM CARRO É COISA DE MENINO! Mas tudo bem, finalmente ele passou a bola para o cara do caixa fechar a minha conta.

Nada, NADA havia me preparado para o caixa. Ele deve ter a posição mais up de todo o posto e se achar muito bonitão! Viu uma mulher sozinha trocando o óleo e pensou com seus botões: "ah, tudo que essa aí precisa é do meu charme encantador!". Fez as minhas contas num papelzinho e ao me passar:

- Nossa! Caro hein?
- É caro mesmo... cuidar de carro é muito caro (nas entrelinhas: cala a boca, meu filho! É você que vai pagar?? Passa meu cartão logo prá eu poder finalmente sentar e chorar!).
Aceita Visa?

Ele começou a clicar no computador e o computador travado! Claro! Ele clicava, clicava... na minha cabeça o mundo rodava, rodava... quando eu comecei a ver pontinhos pretos, não aguentei e sentei ali mesmo, no chão do posto de gasolina! A vida é feita desses momentos!

- Cansou? Hehe
- É, tá muito calor...
- Você está se sentindo mal?
- Não, quando eu fico com muito calor a minha pressão cai um pouco, mas logo passa...
- Então você nunca pode ir ao Nordeste!
- argh
- Sabia que pressão baixa é melhor do que pressão alta?
- grunf (nas entrelinhas: PASSA. A. PORRA. DO. MEU. CARTÃO.)

Colocado o cartão na máquina. Digito a senha. 10 minutos prá imprimir o comprovante do computador travado. Levando do chão: "obrigada!"

- Ah! Nossa, fiz a maior confusão. Passei esse valor e na verdade é esse. E esse computador está muito carregado, e... e... e...
- Certo. Passa de novo então. (nas entrelinhas: revólver, cabeça, sangue e pedaços de miolos voando. O dele ou o meu, tanto faz)

E volto eu para o chão. Dessa vez foi um pouco mais rápido... só deu tempo de uma pequena sugestão:

- Você já experimentou colocar um pouco de sal na língua?
- ... (nas entrelinhas: e você já experimentou fazer um transplante de cérebro?)

Colocado o cartão na máquina. Digito a senha. 10 minutos prá sair o comprovante. Levanto do chão.

- Tchau, obrigada!
- De nada! Trocou tudo hoje no carro, hein? Nossa... até o ar condicionado! Hein? Hein?

Saio correndo. Entro no carro. Engato, acelero, canto pneu!

DROGA! Esqueci de calibrar...